Confira o artigo do presidente da CDL de Fortaleza, Assis Cavalcante, publicado no jornal O POVO.
Tempos atrás, no sul da África, vivia uma tribo que não usava sapatos porque a areia e a grama eram macios.
Contudo, tendo de ir à cidade resolver assuntos de cartório ou de hospital, receber dinheiro ou participar de festas, as pessoas precisavam calçar-se. E o jeito era apelar para o inconveniente de pedir sapatos emprestados.
Até que um dia um homem sábio resolveu o problema: abriu uma tenda de aluguel de sapatos. Instalado à sombra de grande árvore, pendurou nos galhos sandálias, chinelos, alpargatas, botas, botinas, enfim, calçados de toda cor, tipo e tamanho.
As pessoas alugavam o sapato que queriam, iam à cidade resolver seus assuntos e, na volta, o devolviam. Evidente que tinham de pagar o aluguel. Sabe qual?
No final da tarde, depois que todos haviam terminado o serviço, tomado banho no rio, jantado, o povo da vila se reunia para ouvir a pessoa que tinha alugado o sapato contar, com riqueza de detalhes, por onde aquele sapato tinha andado…
Se o sábio da vila africana morasse na capital cearense, e dele eu alugasse um par de pisantes, o pagamento seria a contação dos caminhos trilhados por minhas chinelas tipo ‘currulepe’ (de couro com cabresto) pelo Centro de Fortaleza.
Pagaria feliz o aluguel por haver pisado os chãos das Praças do Ferreira, Leões e José de Alencar; das ruas Major Facundo, Liberato Barroso e Governador Sampaio; o Cineteatro São Luiz, o Museu do Ceará, a Catedral e o Passeio Público. Que histórias eu contaria sobre os caminhos percorridos pelas currulepes?
De pessoas que vi em situação de rua, necessitadas do justo ordenamento pelo poder público. Dos calçadões carentes de urgente reforma que vi, a reclamarem obras duradouras.
Dos camelôs que presenciei aos montes, com seus comércios a necessitarem de séria e urgente readequação. Contaria histórias do bairro de invejável ICMS que clama por segurança pública das boas – efetiva, inteligente, ostensiva; e que pleiteia a presença mais eficaz da guarda municipal, em todos os quadrantes.
Histórias de um Centro pulsante, vibrante, apaixonante.
Que os nossos pés ligeiros tenham uma só e única direção: o Centro de Fortaleza, com toda a sua grandeza e humanidade. Ordenar e valorizar o Centro é, antes de tudo, resgatar quem somos e planejar quem seremos. Respeite o Centro!