Assis Cavalcante: “O dia em que nevou na Praça do Ferreira, que vaiou o sol”
Confira o artigo do coordenador da Ação Novo Centro e do Ceará Natal de Luz, Assis Cavalcante. O texto foi publicado na edição de hoje (27/11) do jornal O POVO.
Parece brincadeira, mas o Ceará só deu certo porque o povo aqui é cearense. Gente bonita e alegre, de bom humor e irreverência inigualáveis. É o que nos faz diferente, de muita fé. Nesse particular, de um lado, Canindé com São Francisco; do outro, Juazeiro com o Padim Padre Cícero.
É pouco? Vamos para as artes: José de Alencar e Rachel de Queiroz, Chico Anysio e Renato Aragão, Antônio Bandeira e Aldemir Martins, Belchior e Fagner, Tom Cavalcante e Falcão.
Ceará da gente aguerrida. Nosso estado foi o primeiro no Brasil a libertar os escravos (25 de março de 1884 – quatro anos antes da Lei Áurea), fato que lhe rendeu o cognome de Terra da Luz, título dado por José do Patrocínio.
Ceará obstinado. Nos tempos da colonização, o rei decidiu que nosso Estado não iria ser ocupado por ser considerado demais inóspito, sem água. O interesse da Coroa era explorar Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, tendo em vista a exploração do cultivo da cana de açúcar. Como o Ceará não tinha água…
Depois veio descoberto o rio Jaguaribe, o “maior rio seco do mundo”. Vejam só: rio seco! Inicia-se a criação de bovinos na região de Quixeramobim em todo o percurso do caudaloso curso de água. Vem o comércio do couro e de peles de animais; em seguida, o algodão e a cera de carnaúba.
Por falar em couro, foi na década de 1915 que um bode trazido a Fortaleza por um retirante, adquirido por um representante industrial, vivia a passear pela Praça do Ferreira e avenida Beira Mar, fazendo escaramuças.
Alguns lhe davam cachaça. O povo, revoltado com a política de então, e levado pelo espírito brincalhão, vota nele para vereador de Fortaleza. Era o Bode Ioiô.
Mais tarde, era o ano de 1942, um grupo de cearenses reunido na Praça do Ferreira, esperando ansiosamente a chuva cair por mais tempo, olha as nuvens escuras de água cederem lugar ao sol e não dá outra: vaia no astro rei.
Agora, na mesma Praça do Ferreira, 75 anos depois do sol apupado, um evento da CDL marca história. O Natal de Luz, realizado dia 17/11, encantou fortalezenses e turistas. Grande espetáculo. A novidade: nevou por 8 minutos na Praça. Neve artificial, é claro, mas muito emocionante.
Mais de 50 mil pessoas foram ao delírio. Episódio da irreverência cearense, com o sentimento amoroso do Natal. Cearense generoso.
Assis Cavalcante – assisvisao@secrel.com.br (lojista e escritor)