57% dos usuários de cartão de crédito não fazem controle efetivo dos gastos
Segundo o SPC Brasil e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), ter um cartão de crédito é sinônimo de comodidade e poder de compra, mas sem um mínimo de disciplina e organização, o bolso do consumidor pode sofrer sérios abalos. Confira!
Um estudo feito pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em todas as capitais do país, revela que 57% dos usuários de cartão de crédito não controlam de maneira adequada os gastos realizados com esse meio de pagamento. As atitudes mais comuns são consultar pela internet a fatura antes do fechamento (28%), ler a fatura quando ela já está fechada (15%) e fazer o controle de cabeça (13%). Os que não fazem qualquer controle são 1%.
O controle total e sistemático dos gastos no cartão de crédito é tarefa feita por 38% dos usuários, sendo que 21% anotam os gastos no papel, 11% utilizam planilhas e 6% registram as compras em aplicativos no celular.
“O cartão de crédito é tratado por muitos como o vilão do orçamento, mas pode ser um aliado do consumidor que souber utiliza-lo adequadamente. É fácil tirar o cartão do bolso e pagar uma despesa. Porém, se não houver disciplina, mais fácil ainda é perder a noção do quanto foi gasto e ultrapassar os limites do orçamento. O controle financeiro é fundamental para evitar esse tipo de problema”, orienta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Juros é o maior temor dos usuários de cartão, mas 59% desconhecem as taxas cobradas quando há atraso
O levantamento revela ainda um comportamento negligente do consumidor. Em um ano, cresceu o percentual de usuários de cartão de crédito que não sabem a taxa de juros cobradas quando se atrasa o pagamento da fatura. Em 2016, 55% dos adeptos da modalidade desconheciam os valores. Hoje, são 59% que ignoram o custo do atraso – especialmente as mulheres (66%), os mais jovens (70%) e os que de mais baixa renda (62%). No geral, quatro em cada dez (38%) entrevistados já ficaram, em algum momento, com o nome sujo por não pagarem a fatura do cartão de crédito e 11% estão atualmente com alguma parcela em atraso.
De acordo com a pesquisa, 90% dos usuários de cartão reconhecem que essa forma de pagamento impõe riscos a vida financeira do consumidor, principalmente por conta dos juros elevados em casos de atraso no pagamento (40%), risco de clonagem do cartão (31%) e por incentivar às compras impulsivas (27%). Apenas 8% dos entrevistados não veem qualquer risco na utilização do cartão de crédito.
“É verdade que o cartão de crédito facilita o consumo, mas não faz a mágica de aumentar a renda, como pode parecer a muitos. Por isso, seu uso demanda muita responsabilidade. É bastante comum encontrar consumidores endividados por terem ultrapassado os limites do orçamento em aquisições por impulso ou gastos incompatíveis com a própria realidade financeira”, alerta o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
Número de usuários de cartão de crédito cai para 61%
Com os bancos e demais instituições financeiras mais rigorosos na concessão de crédito em virtude da crise e da inadimplência, nem sempre o consumidor que decide adquirir um cartão de crédito consegue o instrumento com facilidade.
Dados da pesquisa revelam que 28% dos entrevistados tentaram adquirir um cartão de crédito nos últimos três meses, sendo que 18% não tiveram sucesso – sobretudo as pessoas das classes C, D e E (21%). Houve também, no último ano, uma diminuição na quantidade de brasileiros que possuem cartão de crédito. Em 2016 eram 70% dos consumidores e agora, 61%. Entre as pessoas das classes C, D e E, o percentual de titulares chega a 54% da amostra.
Entre quem não tem cartão de crédito (39%), a principal razão é estar com o nome sujo (26%), falta de comprovação de renda (15%) ou preferência em pagar as contas à vista no intuito de conseguir descontos (13%). 36% dos que possuem cartão usam a modalidade pelo menos três vezes por mês e 47% evitar frequentar lugares que não aceitam a forma de pagamento
Em média, os usuários de cartão utilizam essa modalidade de pagamento 21 vezes por ano, sendo que 36% o utilizam ao menos três vezes por mês. A pesquisa procurou saber as razões para a grande aceitação do cartão de crédito como meio de pagamento entre os brasileiros e descobriu que a possibilidade de parcelamento é a vantagem mais sentida, mencionada por 23% da amostra.
Há ainda 18% de consumidores que gostam de ter prazo para pagar. Ou seja, um período entre a data da compra e o pagamento da fatura. A segurança e poder fazer compras mesmo quando não se têm dinheiro na conta foram citados por 16% e 13% dos entrevistados, respectivamente.
O cartão de crédito também é visto como um aliado nos momentos de emergência. Um terço (33%) dos seus usuários adquiriram esse instrumento para lidar com imprevistos, 25% para não precisar andar com dinheiro em espécie e 15% para pode fazer mais compras que o habitual.
A popularidade do cartão é tão elevada, que 47% dos entrevistados já deixaram de comprar em estabelecimentos que não aceitam cartão de crédito e inclusive evitam frequentar lugares que não oferecem essa modalidade de pagamento. Nesses casos, os tipos de lojas mais citados são bares, restaurantes e lanchonetes (38%), lojas de roupas, calçados e acessórios (37%) ou pequenos estabelecimentos que vendem alimentos e produtos para casa (27%).
Quatro em cada dez (44%) desses entrevistados possuem apenas um cartão de crédito na carteira, mas há aqueles que não se contentam com essa quantidade. A pesquisa mostra que 38% dos consumidores ouvidos possuem dois ou três cartões. Os que andam com quatro ou mais cartões consigo somam 12% desses consumidores.
O principal motivo para aqueles que têm mais de um cartão é que há estabelecimentos que não aceitam todas as bandeiras, então quando um é recusado, utiliza-se o outro (39%). Há ainda 37% de entrevistados que para conseguir melhores prazos, revezam os cartões de acordo com a data de fechamento da fatura.
Dentre as pessoas que têm cartão de crédito, 77% são de bancos convencionais, 8% de financeiras e 8% de fintechs ou bancos 100% digitais.
35% usam cartão para acumular milhas; vestuário e calçados lideram ranking das compras parceladas
De forma geral, 53% dos consumidores ouvidos no levantamento recorrem ao cartão de crédito para adquirir produtos que não conseguem comprar à vista ou quando o valor da compra é alto (40%). Há, ainda, 35% de usuários que preferem usar o cartão de crédito para acumular pontos em programas de milhagem.
Os produtos que os consumidores mais compram parcelados no cartão de crédito são as roupas, calçados e acessórios (60%), eletrônicos (57%), eletrodomésticos (52%) e remédios ou produtos de farmácia (46%). Em média, cada usuário de cartão e crédito no Brasil tem atualmente cinco parcelas a pagar.
66% concordam com nova regra do cartão
A pesquisa também questionou os entrevistados sobre as novas regras do Banco Central para o crédito rotativo do cartão. Desde o início de abril, o consumidor não pode permanecer por mais de 30 dias no crédito rotativo. Assim, se ele tiver realizado o pagamento do valor mínimo da fatura, no mês seguinte terá que lidar com o restante da dívida – seja pagando de forma integral, seja por meio de um financiamento acordado com o banco, mas com juros menores que os praticados no rotativo.
No que diz respeito a essas novas regras, 66% garantem conhecê-las, sendo que 43% concordam com a medida, pois os juros cobrados são abusivos na opinião dos entrevistados. Em contrapartida, 34% não tinham conhecimento das mudanças.
”Mesmo com as novas regras do Banco Central, que restringem o uso por tempo indiscriminado do rotativo, as taxas de juros cobradas no parcelamento da fatura são consideravelmente altas. O consumidor não deve encarar isso como uma opção ao pagamento do valor integral da fatura. O melhor é planejar-se e não gastar além daquilo que pode pagar”, alerta a economista Marcela Kawauti.
Metodologia
A pesquisa foi realizada pelo SPC Brasil e pela CNDL no âmbito do ‘Programa Nacional de Desenvolvimento do Varejo’ em parceria com o Sebrae. Foram ouvidos 601 consumidores de ambos os gêneros, acima de 18 anos e de todas as classes sociais nas 27 capitais do país. A margem de erro é de 4,0 pontos percentuais e a margem de confiança, de 95%.