Maioria dos brasileiros vive no limite do orçamento
É o que aponta o indicador de bem-estar financeiro da CNDL/SPC Brasil. Segundo o levantamento, apenas 10% conseguem lidar com despesas inesperadas e 64% raramente têm sobras de dinheiro.
A capacidade de honrar com as obrigações financeiras, sentir-se seguro em relação ao futuro financeiro e poder fazer escolhas que permitam aproveitar a vida são comportamentos que definem como uma pessoa se relaciona com o dinheiro.
Com base nesses pilares, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), com o apoio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vêm medindo o bem-estar financeiro dos brasileiros desde 2017.
Em fevereiro último, o indicador apontou que 64% dos consumidores vivem no limite do orçamento, ou seja, raramente ou nunca têm dinheiro sobrando.
Enquanto 26% conseguem, às vezes, ter uma reserva e apenas 9% afirmam que sempre ou frequentemente contam com alguma sobra. Além disso, 27% temem que o dinheiro não dure até o fim do mês.
Outro dado mostra que somente 10% estão preparados para lidar com imprevistos. Seis em cada dez (64%) não possuem capacidade de lidar com despesas inesperadas.
O nível de bem-estar financeiro de cada consumidor varia de acordo com respostas dadas em dez questões que avaliam os hábitos, costumes e experiências com uso do dinheiro.
Numa escala que varia de zero a 100, quanto mais próximo de 100, maior o nível médio de bem-estar financeiro da população; quanto mais distante de 100, menor o nível.
Em fevereiro de 2019, o indicador ficou estável ao marcar 48,3 pontos — muito próximo do índice observado no mesmo mês do ano passado, que ficou em 48,5 pontos.
“Quanto à conjuntura, o consumidor não viu grande melhora, já que a queda no nível de desemprego e o aumento da renda continuam sendo pouco expressivos. Além disso, os aspectos comportamentais, que têm peso importante no bem-estar financeiro, também levam algum tempo para mudar”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
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55% não tomam atitudes para garantir o futuro financeiro e maioria deixa de aproveitar a vida pela forma com que administram o dinheiro
O compromisso com os objetivos financeiros também pesam no bem-estar financeiro das pessoas. Nesse pilar, os consumidores brasileiros mostram-se pouco atentos ao futuro: 55% não têm adotado ações que assegurem o futuro financeiro.
Chama a atenção o fato de mais da metade (51%) dos consumidores acreditarem, que, por causa da sua situação financeira, não terão as coisas que querem na vida.
Mas não é só do futuro que o consumidor deve se ocupar para ter bem-estar financeiro. A liberdade para fazer escolhas completa os pilares do bem-estar financeiro.
Os números apontam que 54% admitem não aproveitar a vida pela forma com que administram o dinheiro, enquanto 29% não conseguem viver plenamente em razão de sua condição financeira.
“Para mudar esta situação é importante que a pessoa assuma as rédeas de seu orçamento. Com planejamento e organização financeira, fica mais fácil conseguir honrar os compromissos e garantir a realização de sonhos, lidar com imprevistos e aproveitar a vida dentro de suas possibilidades”, orienta o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.
Bem-estar financeiro é maior entre a população acima de 50 anos
A abertura dos dados por faixa etária sinaliza que, entre os mais velhos, acima de 50 anos, o nível médio de bem-estar financeiro foi maior (50,0 pontos) do que o observado entre os mais jovens (47,8 pontos) e os de meia idade (47,3 pontos).
Na faixa de 18 a 34 anos, 69% disseram não ter capacidade para lidar com imprevistos, enquanto na faixa de 50 anos ou mais o percentual foi de 57%.
Outra diferença surge ao se analisar a possibilidade de aproveitar a vida por conta da maneira como o brasileiro administra o dinheiro.
Na faixa de 18 a 34 anos, 58% dizem não ter essa possibilidade, ante 49% entre 50 anos ou mais. De acordo com a economista-chefe do SPC Brasil, isso acontece porque na terceira idade, reduz-se o peso da preocupação com o futuro e os compromissos financeiros típicos da meia idade, como a aquisição de casa, carro e criação dos filhos.
Metodologia
O Indicador baseia-se num modelo de score desenvolvido pelo Consumer Financial Protection Bureau (CFPB), órgão americano de proteção ao consumidor, traduzido para realidade brasileira por pesquisadores do Núcleo de Estudos Comportamentais da CVM, tendo como objetivo medir, periodicamente, o nível de bem-estar financeiro da população.
A mensuração é feita através de entrevistas aplicadas periodicamente a uma amostra representativa dos brasileiros, com um questionário composto de dez questões.
De acordo com suas respostas, os entrevistados recebem uma nota, que pode variar entre zero e 100. Quanto mais próximo de 100, maior será o nível de bem-estar financeiro; quanto mais próximo de zero, menor o nível de bem-estar. O Indicador é obtido pela média dos scores da amostra.