Outros fatores emocionais, como problemas no trabalho, também levam à contração de dívidas.
A combinação entre instabilidade emocional e consumo pode ser fatal para um orçamento saudável.
De acordo com levantamento divulgado ontem (18) pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), entre as razões emocionais que levam os consumidores brasileiros a contraírem dívidas, a ansiedade é a principal, apontada por 21% dos entrevistados.
Outros 13% o fizeram quando estavam insatisfeitos ou com problemas no trabalho e 12% usaram o crédito quando estavam abalados emocionalmente por causa de problemas financeiros.
O mestre em economia e executivo de Finanças do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Luiz Antônio Trotta, explica que a turbulência econômica e as altas taxas de desemprego provocam medo, ansiedade, estresse e autoestima baixa.
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Quem perde o emprego ou se vê inadimplente muitas vezes tem vergonha de ser sincero com a família e acaba querendo continuar com um padrão de vida insustentável, na avaliação dele.
“As contas continuam chegando e isso contribui para a autoestima baixa do consumidor, o que é totalmente entendível. O problema é que, grande parte da população não cria uma reserva financeira, tem basicamente aquele ganho de sobrevivência e não se prepara para algo fora do previsto”, detalha Trotta, acrescentando que essa fatia da população que não cria reserva financeira acaba contraindo dívidas por não conseguir ver a renda acompanhando os gastos.
“Essas pessoas entram em financiamentos com altíssimas taxas de juros e há, hoje, ferramentas de crédito de facílimo acesso ao consumidor, que são o cheque especial e o cartão de crédito. É uma compra muitas vezes supérflua e que pode se transformar em uma dívida do valor de um apartamento”, detalha o executivo de Finanças do Ibef-CE.
Ele avalia que o principal passo a ser dado em momentos de descontrole do orçamento e inadimplência é conversar com a família sobre a situação.
“Aquele sentimento de vergonha é um fator impeditivo de dividir a situação com a família e o primeiro passo deve ser justamente abrir a situação com os parentes mais próximos”, diz Trotta.
‘Distração’
Para a analista financeira Nayara Cavalcante, comprar já foi muitas vezes uma ferramenta utilizada pela mente para escapar de crises de ansiedade e de pânico.
“Me sentia sufocada, começava a ter crise de pânico e sentia que precisava estar em lugares com muita gente, então acabava indo ao shopping. Lá, para me distrair, eu começava a olhar os produtos e, quando percebia, estava comprando”, diz.
Ela frisa que foi fundamental o acompanhamento médico para que ela percebesse que a prática não era uma boa saída para as crises.
“Eu fiz acompanhamento psiquiátrico e consegui reduzir as crises. Já cheguei a ficar sem dormir à noite pensando em algo que queria muito comprar no dia seguinte”, lembra Nayara.
Além da ansiedade, dos problemas no trabalho e do emocional abalado, os problemas de relacionamento familiar (9%) e a perda de um ente querido também foram situações do ponto de vista emocional nas quais os consumidores contraíram dívidas, segundo o estudo da CNDL e do SPC Brasil.
Contrair dívidas em momentos de dificuldade emocional pode contribuir para o desequilíbrio das finanças e levar à inadimplência.
Entre os principais motivos que impossibilitaram o pagamento de dívidas em atraso há mais de três meses estão a perda do emprego (37%); redução da renda (24%); falta de controle financeiro/falta de planejamento no orçamento (12%) e empréstimo do nome para terceiros realizarem compras, citado por 9% dos entrevistados na pesquisa.