Turbulência política e desafios econômicos marcaram o ano de 2017. Foi período de tomar as rédeas da situação.
Na política monetária, redução de juros no tempo certo. Duas variáveis estão sob controle: a inflação (2,78%) e a taxa de juros (7%) que, em conjunto com o câmbio razoável (na casa dos R$ 3,30), não inviabilizou a exportação nem encareceu tanto a importação.
Com a diminuição do custo de carregamento das dívidas das empresas privadas, da mobiliária federal interna e dos custos de oportunidade para o empreendedorismo, o economista e diretor geral da Valorize Consultoria Empresarial, José Maria Porto, avalia que alguns investimentos começaram a se tornar interessantes perante os custos de oportunidade da Selic, que vai ficar abaixo de 7% ou nesse patamar para 2018.
Para o próximo ano, o arrocho fiscal deverá continuar. Existe ainda um déficit de R$ 159 bilhões, número “insustentável” que coloca em risco a credibilidade do País em honrar os compromissos.
Com 12 milhões de desempregados no Brasil ainda não se pode contar vitória. É preciso retomar a economia sem os erros do passado, quando o foco era simplesmente o consumo. Também é importante retomar o investimento, que esse ano encerra em 15% do PIB, abaixo dos 19% ou 20% dos últimos cinco ou seis anos. Além disso, é necessário investir no setor de infraestrutura.
Pontos de destaque de 2017, para o economista Vitor Leitão, foram a aprovação do teto de gastos, da reforma trabalhista e o desempenho do setor agropecuária, com algumas safras acima do esperado. A criação de postos de trabalho reverteu um pouco o desemprego, mas ainda é insuficiente. Embora o governo tenha formado boa equipe econômica, esta fica sujeita à aprovações por parte do Legislativo.
Comércio
Um ano “obscuro” é a percepção de Assis Cavalcante sobre 2017. O presidente recém-diplomado da CDL de Fortaleza avalia que a política atrapalhou o andamento da economia, interferindo na confiança do consumidor e nos investimentos.
A partir do meio do ano, porém, o comércio passou a fluir. O cumprimento da folha de pagamento dos servidores e a ampliação do horário de funcionamento do comércio impactaram positivamente nas vendas. “Tivemos a liberdade para atender o que o consumidor queria”, avalia.
Segundo Assis, as vendas do fim de ano levaram 650 mil pessoas, em apenas três dias, ao Centro de Fortaleza, a contar da última quarta, 20.
Eventos como o Natal de Luz na Praça do Ferreira favoreceram o consumo. No balanço geral do setor, o crescimento foi variável. Alguns segmentos de empresas, como o de eletro, cresceram 3%. Já outros ficaram 10% a 15% inferior ao ano passado.
Para 2018, ele projeta um crescimento de 3% no comércio, mas demonstra preocupação com a quantidade de feriados em dias úteis. “Um feriado no meio da semana representa 5% a menos no faturamento. No mês que tiver dois feriados, são 10% a menos no faturamento. É muito”.
Veículos e Imóveis
Para o setor de veículos, no primeiro semestre de 2017 não houve crescimento. É o que aponta Fernando Pontes, presidente Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O segundo semestre, porém, ajudou o ano a fechar com o crescimento de 6%, comparado a 2016. “É um alento. O fluxo está melhor, com a credibilidade na política econômica voltando. Se a reforma da Previdência passar, vamos ter impacto positivo. Não podemos ficar do jeito que estamos. É preciso que haja um choque”.
Para 2018, a expectativa permanece positiva. André Montenegro, presidente do Sindicato das Construtoras (Sinduscon-CE), observa que o setor não cresceu este ano e fechou com perdas.
De acordo com ele, os dados nacionais mostram que a construção civil decresceu 6% e reduziu em torno de 15mil os postos de emprego. No Ceará, o ano fecha com 9 mil unidades no estoque, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), com 60% destes imóveis no valor entre R$ 500 mil a R$ 1 milhão.
“Quem mais sofreu foi a classe média”, analisa. Com o volume do estoque, André projeta que os lançamentos para o próximo ano só devem ocorrer no segundo semestre. “Para o País voltar a crescer, tem que passar pela construção civil, que movimenta uma cadeia muito grande”, analisa.
Agronegócio
Na avaliação de Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura do Ceará (Faec), em 2017 não houve um crescimento significativo para o setor. As sucessivas secas que o Estado enfrenta refletiram nos índices, mas comparado a anos anteriores de estiagem, este foi um pouco melhor.
“Algumas regiões tiveram recuperação parcial das atividades agropecuárias”. Flávio aponta como fatores que devem favorecer o crescimento do setor, inclusão de mais 25 municípios cearenses na região de semiárido e a prorrogação do prazo de renegociação das dívidas de produtores rurais prejudicados pela seca.
Serviços
Bares, restaurantes, barracas e hotéis projetam crescimento
No segundo semestre, novidades no turismo aumentaram a confiança na retomada dos negócios no Ceará. O hub KLM/Air France/Gol e a concessão do Aeroporto de Fortaleza para a Fraport são fatores de grandes expectativas para impulsionar diversos setores da economia.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Ceará (ABIH-Ce), Eliseu Barros, avalia que o ano de 2017 começou difícil. A partir de junho, no entanto, a economia passou a reagir e os hotéis devem fechar o ano com 4% de crescimento e média de 68% de ocupação. Para 2018, o turismo internacional é a aposta.
Antonio Alves de Moraes, presidente do Sindicato de Restaurantes, Bares, Barracas de Praia, Buffets e Similares do Estado (Sindirest), diz que 2017 encerra em crescimento de 6%. Ainda não se percebe recuperação plena de empregos.
Este ano, o aumento nas contratações girou em torno de 3%. Com a reforma trabalhista, o trabalho intermitente deve prevalecer. Rodolphe Trindade, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Ceará (Abrasel-CE), espera acréscimo de 10% em 2018. O segmento agrupa mais de 6 mil estabelecimentos em Fortaleza e 20 mil no Estado.
No ramo de eventos fechados como casamentos e corporativos, a alta neste ano é de 20%. O crescimento dos bares foi em média de 5% neste fim de ano e vem surgindo nova geração de empreendedores, com bares especializados.Já as barracas de praia observaram melhora no movimento ante o ano passado, enquanto a Cidade viu crescer restaurantes de porte menor.
Indústria
Um certo alívio foi percebido em 2017 no setor industrial do Estado. Após amargar o patamar mais baixo de produção da série histórica (-28,6%), em novembro de 2016, e se manter em recuperação lenta, a produção industrial do Ceará chegou a crescer mais que a média nacional neste ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como os índices de confiança voltaram a melhorar, a expectativa é mais positiva para 2018 do que comparado ao final de 2016 para 2017, segundo avalia o economista Vitor Leitão.
Fonte: Jornal O POVO
